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Writer's pictureSâmara Jorge

Até algum tempo atrás, mulheres não tinham o direito de fazer escolhas. Sequer podiam escolher os próprios parceiros! O surgimento da pílula anticoncepcional e o movimento feminista quebraram paradigmas e trouxeram uma nova consciência sobre o feminino. Isso foi importante para questionar uma visão de mundo, que vigorou até os anos 60.

Mudamos nosso posicionamento na sociedade e passamos a desempenhar um novo papel, muito mais presente e ativo. A partir daí, passamos a acreditar na idéia de que para sermos fortes, bem sucedidas e conquistar respeito deveríamos ser e agir dentro do padrão masculino vigente. Isso demonstra o quanto os valores da sociedade patriarcal estavam arraigados à consciência das próprias mulheres! Sim, pois há um pressuposto subliminar de que ser homem é ser "melhor", então, seremos como eles!

A absoluta falta de referencial nos levou a entender que, na busca por igualdade, deveríamos ser como os homens, como aqueles homens. E, de verdade, para quebrar valores tão fortemente construídos ao longo de séculos, esse parece ter sido o único caminho possível!

Mas, de que igualdade estamos falando?

Não podemos nos esquecer de que hoje, embora tenhamos ganho espaço no mercado de trabalho e apesar de tantas conquistas, ainda lutamos por respeito, reconhecimento e equiparação salarial. É preciso refletir sobre quais foram os ganhos (e, certamente, foram muitos!), mas também sobre o que deixamos para trás e o que ainda podemos ganhar com uma nova mudança de pensamento.

É fato que quando passamos a pensar, a funcionar e a agir como os homens, ficamos independentes. Mas sem perceber, começamos a acreditar que poderíamos prescindir do masculino e acabamos com um vazio no campo do relacionamento em nossas vidas. Ficar independente é prescindir de uma relação de dependência com o masculino, mas para isso não precisamos abdicar do outro, tampouco estabelecer uma relação competitiva, de poder com o parceiro.

Muitas mulheres só costumam se dar conta disso quando ficam diante da solidão, ou quando passam por mudanças importantes em suas vidas. E é nesse momento que saem em busca de uma identidade... saem em busca do que é ser mulher.

Com uma certa frequência ouço em meu consultório: "Será que ser mulher é viver à sombra de um homem atendendo suas vontades e reproduzindo os seus desejos?

" Não! Certamente, não! Precisamos nos reinventar, aprender uma nova forma de convivência com o masculino, na qual possamos somar, respeitar e ser respeitadas. Exercer a própria individualidade não é prescindir do outro. Se fizermos isso, acabaremos por prescindir também do que um relacionamento pode nos trazer de bom, criativo e prazeroso.

Passados cinqüenta anos, talvez seja o momento de refletir...

Devemos mesmo ser como os homens? Será que temos a mesma natureza?

Não creio. Acredito que temos os mesmos potenciais, a mesma força interna, uma imensa riqueza criativa, a mesma competência, importância e direitos, mas somos seres de naturezas distintas. Nem melhores, nem piores. Apenas diferentes...

Será que somos menos mulheres, por gostarmos de receber uma gentileza de um homem ou por, secretamente, vivermos fantasias românticas ou querermos encontrar um amor?

Também, não! Mulheres podem ser doces e fortes. Podem ser independentes e gostar de certos mimos. O que importa é a segurança interna de quem somos e do que somos.

Parece haver, atualmente, uma "crença" de que é feio uma mulher gostar do que antigamente eram consideradas "coisas de mulher " – flores, atenção, esperar um telefonema no dia seguinte, etc.

Não são poucas as mulheres que negam para si mesmas essas expectativas por se sentirem desvalorizadas socialmente. Às vezes, só contam isso para seus terapeutas e mantêm, externamente, uma imagem do que acreditam ser uma mulher independente.

Acredito que, para resgatar esses aspectos, precisamos romper com alguns estereótipos reforçados pela consciência patriarcal. Um deles é de que existem coisas de mulher e coisas de homem. Isso não é verdade! O que existem são padrões femininos e masculinos que podem estar presentes tanto na psique masculina, quanto na feminina.

Em segundo lugar, se, por exemplo, um homem abre a porta do carro para a mulher e ela gosta, isso não quer dizer que ela não possa abrir a porta do carro para si mesma! Não é sinônimo de incapacidade, fragilidade, incompetência ou mesmo de carência. Parece que algumas mulheres estigmatizam essas atitudes e negam para si mesmas gostar de receber esse tipo de gentileza.

Por outro lado, não podemos cair na armadilha de que todas gostamos ou esperamos essas atitudes do masculino. Isso também não é verdade! Se pensarmos assim, correremos o risco de novamente criar um estereótipo do que é ser mulher. Há mulheres que, não só não fazem a menor questão, mas que não gostam de atitudes como essas! E tudo bem também! Não são menos mulheres por isso. Assim como há muitos homens que sentem prazer em ter esse tipo de atitude e outros que nem se preocupam com isso. Não são menos homens por isso!

Cada um de nós expressa sua atenção e seu afeto pelo outro de forma muito singular. O que me parece mais importante é que possamos entrar mais em contato com nosso universo interno e agir de acordo com nossas reais expectativas e desejos, sem pressuposições preconceituosas e estereotipadas, ou ainda, sem tanta preocupação com valores e expectativas externas que, muitas vezes, não nos representam e não falam a respeito de quem somos realmente!

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Updated: Sep 4, 2021

Gentileza: qualidade ou caráter de gentil. Ação nobre, distinta, amável. Donaire, garbo, elegância. Amabilidade, delicadeza.

Essa é a definição do dicionário Aurélio para gentileza. Para mim, entretanto, esta palavra agrega outros conceitos e valores, tais como, ética, respeito, educação e capacidade de se colocar no lugar do outro. Sendo assim, toda vez que usá-la no decorrer deste texto, estarei me referindo a esse significado mais amplo.

Mas por que escrever um texto sobre isso? Porque tenho observado o quanto, cada dia mais, essa é uma palavra que se encontra no ostracismo, uma atitude que caiu em desuso, embora me pareça essencial para a convivência e para a manutenção dos relacionamentos e, por que não dizer, da sobrevivência!

Não estou aqui falando da gentileza usada apenas de forma protocolar, mas da capacidade de um indivíduo de ser gentil, genuinamente. Digo isso, pois, atualmente, temos até leis que nos obrigam a praticar atos de gentileza, tais como: banco especial para os idosos nos ônibus, filas preferenciais nos bancos e mercados, etc. Penso que a necessidade de se criarem leis desse tipo denuncia a nossa absoluta falta de educação e de consciência do que é ser gentil e, sobretudo, do que significa a palavra respeito.

É fato que o mundo tem estado mais amargo, violento e agressivo e incluir a gentileza em nosso “dicionário de atitudes” pode deixá-lo um pouco mais doce e palatável.

Falamos e ouvimos falar o tempo todo do horror que nos causam as atrocidades cometidas por grupos terroristas, criminosos, governos corruptos, mães que espancam filhos, maridos que cometem atos de violência etc., etc., etc.

Indignar-se pelas grandes atrocidades é fácil, mas será que conseguimos olhar para as pequenas maldades que cometemos em nosso dia a dia?

Sim, pois embora tenham diferentes graus e intensidade e sejam - em alguns casos- cometidas sem intenção, podemos ferir profundamente as pessoas que convivem direta ou indiretamente conosco ao brigar no trânsito, berrar palavrões, humilhar os outros, não recolher o cocô do seu cachorro da calçada, jogar lixo na rua, desrespeitar um idoso, gritar com nossos filhos ou maridos... E esses são apenas alguns exemplos de atitudes corriqueiras que traduzem a falta de gentileza.

Nos últimos dias, após presenciar algumas cenas, “tão cotidianas”, de desrespeito e agressão, senti brotar, pela primeira vez, um conflito dentro de mim: fiquei me perguntando se sou eu que estou errada em não ser tão dura ou agressiva e me incomodar tanto com atos desse tipo. Diante do dilema, a resposta veio através da recusa incontestável em vestir uma armadura ou criar uma casca tão grossa que pudesse ferir a quem estivesse próximo a mim.

Não, definitivamente, não! Não creio que tenhamos que nos tornar pessoas grosseiras, bélicas, que tendem a se sentir desafiadas a disputar poder com alguém o tempo todo. Também não acredito que devamos ensinar nossos filhos a se defenderem com agressividade e não penso que sejamos obrigados a agir dessa forma para nos adaptarmos a este mundo!

Não quero dizer, com isso, que devemos perder a capacidade de nos indignar, nem que devemos ser frouxos, passivos ou silenciar por medo de demonstrar uma reação. Muito pelo contrário. Há que se ter muita força e sabedoria para saber calar quando necessário ou saber argumentar com firmeza, sem perder a dimensão do respeito e da delicadeza, ou ainda, saber o momento certo de agir com assertividade e objetividade.

Quem não se lembra do ato do estudante que, na China, se colocou diante de um tanque de guerra, sem nenhuma arma ou ameaça? Atitudes desse tipo exigem segurança e coragem... muita coragem...Segurança das suas convicções... certeza de estar agindo de acordo com seus ideais. Sim, porque ter um discurso pacifista ou julgar as pessoas que são indelicadas é muito simples e, na maior parte das vezes, ineficiente. Difícil e eficiente, mesmo, é ter o discurso e praticá-lo, nas pequenas coisas do cotidiano.

Quantos de nós, após anos de relação com alguém que verdadeiramente amamos, vamos deixando de lado a gentileza e a atenção que nos desdobrávamos em dar no início do relacionamento?

Quantos de nós somos muito mais amáveis com quem não conhecemos, ou com colegas de trabalho do que com nossos filhos e familiares?

Quantos de nós dizemos “bom dia” ou “obrigado” ao porteiro do prédio quando visitamos um amigo ou parente que mora lá, mas esquecemos de cumprimentar quem abre a porta todas as manhãs para nós?

Sim, tendemos a ser mais doces e educados com quem está longe. Esse tipo de gentileza também deve ser preservado, mas precisamos estar muito atentos também às nossas reações frente às diversas pessoas e situações que nos rodeiam.

No início, isso talvez exija um grande esforço, pois a primeira coisa que precisamos fazer é tomar consciência do que nos irrita ou nos enraivece. Essas são reações que fazem parte da natureza humana e, portanto, perfeitamente naturais e esperadas em qualquer pessoa. O problema está na forma de expressar esses sentimentos.

Aprender a ouvir é também outro aspecto que precisamos urgentemente

desenvolver. Muitas vezes, disparamos a falar, a dar ordens, sem perceber que tiramos do outro o direito de argumentar. E, o que é pior, nem percebemos o quanto somos autoritários!

Agir com delicadeza e doçura não quer dizer aceitar tudo o que o outro é ou faz, mas saber colocar limites sem perder a razão.

Até porque, perdemos totalmente a razão quando nos tornamos agressivos ou invasivos. Podemos estar absolutamente certos, os argumentos podem ser legítimos, mas, se não soubermos nos colocar adequadamente, acabamos com todos os nossos direitos frente a qualquer situação. E, certamente, iremos ferir pessoas desnecessariamente.

Acredito que uma das formas de evolução do ser humano seja através da consciência da relação que estabelecemos com o mundo a nossa volta. Isto é, através da consciência de nossas atitudes e do cultivo diário da gentileza e do respeito com as pessoas, com as crianças, plantas, animais, com o lixo, com o trânsito, etc.

Mas, então, como buscar essa consciência e cultivar essas atitudes?

Em momento algum, teria a pretensão de dizer que sei qual a resposta certa para essa questão, tampouco acredito que exista apenas um caminho a ser seguido. Entretanto, penso que há algumas atitudes capazes de nos aproximarem de tornar isso possível:

Olhar para os nossos próprios desejos, mas não apenas para eles.

Aceitar que muitas vezes nossas vontades têm que ser adiadas.

Aprender a lidar com as inevitáveis frustrações que a vida nos impõe.

Levar em conta as necessidades e vontades do outro.

Tentar nos colocar no lugar do outro.

Perceber que cada pessoa é tão importante quanto nós mesmos e que tem o direito de existir e se manifestar.

Compreender que cada pessoa é única e tem o seu jeito de funcionar, de sentir e de viver, não tendo que atender às nossas ordens ou expectativas.

Respeitar regras e limites.

Assumir a parcela de responsabilidade que nos cabe frente às pessoas que nos rodeiam, à rua onde moramos, ao universo em que vivemos.

Fica aqui uma proposta de reflexão e a esperança de que cada indivíduo, a partir da consciência de si mesmo, tente resgatar a capacidade de agir com respeito e gentileza em sua vida. Assim como as sementes se espalham e criam novos frutos, são as pequenas atitudes que formarão a consciência necessária para que possamos deixar um mundo mais justo, ameno e habitável para nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos...


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O que está acontecendo comigo?

Podemos entender a gravidez como um grande ciclo transformador na vida de uma mulher.

A gravidez é um processo misterioso, secreto e silencioso, que provoca mudanças físicas e psíquicas, antes mesmo que a mulher saiba que está grávida. É como se o corpo se transformasse em um “ninho quentinho”, escolhido pela natureza para cumprir o curso da vida.

A maternidade talvez seja a única experiência eterna. Uma vez mãe, nunca se deixa de ser mãe, especialmente por todas as transformações externas e internas decorrentes da gravidez e da chegada de um filho.

A gravidez reorienta e reorganiza todo o corpo e o psiquismo da mulher. A intensidade das emoções, as constantes mudanças de humor, apetite, sono, o ritmo diferente, tudo parece fazer parte do despertar da consciência do que é ser mãe.

Embora tenhamos, em nossa sociedade, a imagem de que a mulher deva ter apenas sentimentos bons e de aceitação em relação à maternidade, na prática, sabemos que nem sempre é isto o que acontece. Não é raro que, principalmente no início, sentimentos ambíguos em relação à maternidade possam ocorrer e, em alguns casos, a não aceitação da gravidez pode se prolongar por um grande período, chegando, eventualmente, até o nascimento.

Algumas mulheres podem viver um sentimento de rejeição em relação à gravidez, o que pode ocorrer em função de não estarem prontas para receber um filho, ou por serem muito jovens, por priorizarem outros projetos em suas vidas, por não terem uma relação estável, ou pela falta de condições econômicas ou ainda, pelo fato da gravidez ter sido acidental. Estes e tantos outros fatores que não citei aqui podem determinar a relação que a mulher estabelecerá com a gravidez.

Isto não que dizer que a mãe não ame seu filho, apenas demonstra a intensidade dos sentimentos que invadem a mulher quando ela espera um bebê.

São sentimentos de amor, medo, alegria, angústia, insegurança e ansiedade, pela espera, pela formação do bebê, pelo parto, pelas mudanças que ocorrerão na vida e as responsabilidades que chegam junto com um filho.

Vimos então, que cada mulher vive a gravidez e a maternidade de uma forma muito particular, mas para que possamos entender melhor o que acontece em cada fase, dividiremos a gravidez em três trimestres.

O primeiro trimestre parece ser um período de adaptação a uma nova realidade, a um novo papel... É nos primeiros meses que a mulher costuma ter maior necessidade de sono e recolhimento, talvez para que possa ficar mais em contato com a gravidez e com todas as mudanças que estão ocorrendo dentro de si. É também um período de intensas mudanças hormonais, o que contribui para um aumento na instabilidade e na sensibilidade das futuras mamães. É por volta desta época que a mulher costuma tomar consciência de que está deixando de ser filha para se tornar mãe e este pode ser um momento muito especial para o seu crescimento, se puder ser vivido em toda a sua intensidade e profundidade.

No segundo trimestre, a gravidez parece tornar-se mais real, seja porque a mãe já pode sentir o bebê se mexendo, seja porque a barriga cresce a cada dia. É o momento em que a mulher se sente mais disposta, já há uma adaptação maior às mudanças físicas e psíquicas. Em alguns casos, podem ocorrer desconfortos com relação à sexualidade - medo de machucar o bebê ou fantasias de que sexo e gravidez são incompatíveis, são muito comuns entre casais grávidos. Entretanto, salvo se houver restrições médicas, o carinho e a experiência sexual entre os pais é bastante importante, tanto do ponto de vista do casal, quanto do bebê, que estará sendo gerado em um clima de proximidade e afeto. Alguns homens relatam que, ao manterem relações sexuais com suas esposas, sentem-se mais próximos, é como se pudessem se sentir fazendo parte da unidade mãe-filho.

O último trimestre é vivido com uma dose maior de ansiedade, especialmente os dois últimos meses. O desejo de saber se tudo está bem, de pegar o filho no colo, ver sua carinha, de amamentar, etc, alternam-se com o cansaço provocado pelo aumento de peso, os temores do momento do parto, da nova vida que terá início após o nascimento do bebê e tantas outras fantasias que ocorrem de forma muito particular para cada uma das mulheres que carrega em si um novo serzinho que tão brevemente fará parte de toda a sua vida.

E, no momento em que nasce, olhos, ouvidos, atenção e todos os sentidos da mãe voltam-se para o bebê e, todo o amor que já estava lá, vivido ou não durante a gravidez, desabrocha para aquela criaturinha que precisa de muitos cuidados, mas acima de tudo de muita dedicação, aceitação e amor...

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